Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

A mudança na Barra Funda

[Crônica de 26 de março de 2010]

Até o outro dia, a Barra Funda era um bairro sem futuro, feio, com meia dúzia de prédios bons e uma infinidade de cortiços e semicortiços caindo pelas tabelas, à luz de um dos pores do sol mais bonitos da cidade.

O pôr do sol na Barra Funda tinha um que todo especial, uma cor única e uma profundidade de horizonte que o colocava entre os mais belos, em qualquer lugar do mundo.

A contrapartida era o próprio bairro. Sujo, pobre, malcuidado, com ruas escuras e estreitas.

Aí chegou o Memorial da América Latina. E, lentamente, o bairro começou a mudar.

Um belo dia, alguém construiu uma estação rodoviária. Que atraiu prédios para onde eram as fábricas Matarazzo. Depois, mais um edifício ganhou forma, e outro também subiu, e outro, e outro, e outro mais.

Aos poucos, o bairro se transforma em mais um paliteiro. Os altos edifícios pipocam por todos os lados, enquanto as antigas construções, a maioria sem qualquer valor histórico ou arquitetônico, despenca, demolida a toque de caixa, para dar lugar ao novo e ao brilhante, que vieram na cola do prédio da Justiça do Trabalho.

O metrô já está lá. Trens chegam e partem de estações ao lado. Ônibus e caminhões infernizam a Avenida Marques de São Vicente.

O trânsito adquire tons absolutamente paulistanos, misturando o pedaço com o que há de pior na metrópole.

É o preço do progresso. É o feio do progresso. É a maravilha gerada pelo progresso.

Ontem, toda a região era um imenso nada. Nada que, hoje, visto da ponte Julio de Mesquita Neto, explode numa cidade nova, viva e vibrante.

___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.