Os Ipês amarelos
Os ipês amarelos estão aí, com toda a maravilha de suas flores, enfeitando desde pequenas árvores com muito chão pela frente até os troncos centenários que ainda aparecem em alguns cantos da cidade.
Eu tenho um amor especial pelos ipês amarelos. Criança, na casa de meu pai no Pacaembu, tinha um ipê amarelo no qual eu brincava de subir e descer e onde eu me escondia, quando o Calejo ia lá em casa para nos dar injeção.
Isso mesmo. Naquele tempo, tinha um cidadão que minha mãe e minhas tias chamavam para aplicar as injeções e vacinas necessárias. Ele chegava com sua mala com as seringas de vidro dentro, alojadas em estojos metálicos, abria a mala, pegava e fervia a seringa e a agulha, colocava o líquido dentro e nos aplicava a injeção. Até hoje não gosto de tomar injeção e, naquela época, subia no ipê para escapar da tortura.
Depois, quando comecei a colaborar com a Santa Casa, me deslumbrei com a florada do grande ipê amarelo plantado no jardim da frente. Reza a lenda que, quando a florada é rica, o ano será bom para a Irmandade. Então, todos os anos, fico à espera da sua florada, na torcida para ser de respeito e a Santa Casa ter um ano farto pela frente.
Além disso, as flores dos ipês amarelos caídas no chão me falam das antigas bandeiras que partiam da pequena vila de Piratininga e varavam o sertão por anos a fio, atrás de ouro e pedras preciosas.
Me fazem imaginar o planalto com suas fazendas tocadas pelas mulheres, a maioria índias ou mamelucas, que ficavam encarregadas de zelar pelas propriedades enquanto os homens seguiam as rotas do Peabiru e as trilhas escondidas nas matas, à procura do ouro que os faria ricos e que depois financiou a Revolução Industrial Inglesa.
Os ipês amarelos são árvores muito especiais.
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