A guerrilha das Sibipirunas
Contra os exércitos fechados e coesos dos ipês e das azaleias floridas não há muito que as outras plantas possam fazer. Em campo aberto, serão fatalmente derrotadas, não porque são menos competentes, mas porque são menos numerosas.
Para quem acha que poderia ser diferente, coloco na mesa os índios Sioux na batalha de “Little Big Horn”. Muito mais numerosos, eles simplesmente passaram por cima do General Custer e da sua cavalaria. Da mesma forma que os Zulus atropelaram as tropas britânicas na África.
Contra o número bruto é muito difícil, a não ser que você tenha metralhadoras, como ficou provado na Primeira Guerra Mundial. Com metralhadoras a conta muda e um punhado bem armado e bem colocado pode destruir uma multidão em campo aberto.
No reino vegetal é igual. Não adianta enfrentar a força bruta, não tem como, ela vence porque é mais numerosa. As plantas sabem disso, por isso não insistem, ficam quietas em seu canto, esperando a tempestade passar para colocarem a cabeça de fora. Elas sabem que, em rio que tem piranha, jacaré nada de costas.
Mas tem gente mais arrojada, mais destemida e que se arrisca e que, com competência, dá conta do recado e acaba se saindo bem, não porque é mais forte, mas porque entendeu melhor a dinâmica dos fatos.
É o caso das sibipirunas. Elas sabem que, no número, na marra, não têm chance numa briga com os ipês amarelos. Mas elas estudaram as guerrilhas bem-sucedidas no mundo e, com base nas técnicas vietnamitas, entram de sola, batem e escapam, ocupam lugar e dão trabalho.
As sibipirunas não batem de frente. De repente, sem aviso, saem de trás do horizonte e explodem suas flores amarelas, radiantes feito os sóis dos planetas distantes das aventuras de ficção científica.
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