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O gigante gentil

É interessante observar como a vida se desenvolve em seus vários níveis, acima do solo, no solo e embaixo dele. Ainda estamos descobrindo espécies completamente desconhecidas, que, somadas aos milhões de formas de vida, fazem da existência uma cadeia mais longa e complexa do que poderíamos pensar vendo a vida acontecer pela janela da sala.

Entre as surpresas boas está a adaptação de um dos gigantes da floresta ao meio urbano, onde ele encontrou um espaço novo, quem sabe até mais adequado para mostrar sua pujança e sua riqueza.

Os ipês estão entre os gigantes das matas brasileiras. Dividem o espaço com os jacarandás, cedros, jequitibás e perobas que ainda povoam trechos importantes da Mata Atlântica. 

Não é comum encontrá-los, mas ainda é possível ver, dentro das matas, ipês imensos e com troncos grossos, que necessitam quatro ou cinco homens de braços abertos para contorná-los.

Árvores com séculos de existência, algumas capazes de terem visto a subida da serra pelos primeiros europeus; de terem acompanhado o vai e vem entre o litoral e o planalto, quando o Peabiru estava sendo aberto; de terem dado sombra à comitiva de D. Pedro I na jornada em que proclamou a Independência.

São essas árvores, guardiãs dos segredos da floresta, silenciosas em seu tamanho desmedido, abrigo dos pássaros e tradutoras dos códigos dos ventos, que, singelamente, agora também se espalham em covas nas calçadas e enfeitam São Paulo com as quatro cores que as distinguem: o roxo, o branco o amarelo e o rosa. 

A maioria delas, para árvores centenárias que dão sombra às matas, são arbustos, mas seu futuro é longo e, quando não estivermos mais aqui, seguirão crescendo e anualmente enfeitando a cidade.     

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.