O gigante gentil
É interessante observar como a vida se desenvolve em seus vários níveis, acima do solo, no solo e embaixo dele. Ainda estamos descobrindo espécies completamente desconhecidas, que, somadas aos milhões de formas de vida, fazem da existência uma cadeia mais longa e complexa do que poderíamos pensar vendo a vida acontecer pela janela da sala.
Entre as surpresas boas está a adaptação de um dos gigantes da floresta ao meio urbano, onde ele encontrou um espaço novo, quem sabe até mais adequado para mostrar sua pujança e sua riqueza.
Os ipês estão entre os gigantes das matas brasileiras. Dividem o espaço com os jacarandás, cedros, jequitibás e perobas que ainda povoam trechos importantes da Mata Atlântica.
Não é comum encontrá-los, mas ainda é possível ver, dentro das matas, ipês imensos e com troncos grossos, que necessitam quatro ou cinco homens de braços abertos para contorná-los.
Árvores com séculos de existência, algumas capazes de terem visto a subida da serra pelos primeiros europeus; de terem acompanhado o vai e vem entre o litoral e o planalto, quando o Peabiru estava sendo aberto; de terem dado sombra à comitiva de D. Pedro I na jornada em que proclamou a Independência.
São essas árvores, guardiãs dos segredos da floresta, silenciosas em seu tamanho desmedido, abrigo dos pássaros e tradutoras dos códigos dos ventos, que, singelamente, agora também se espalham em covas nas calçadas e enfeitam São Paulo com as quatro cores que as distinguem: o roxo, o branco o amarelo e o rosa.
A maioria delas, para árvores centenárias que dão sombra às matas, são arbustos, mas seu futuro é longo e, quando não estivermos mais aqui, seguirão crescendo e anualmente enfeitando a cidade.
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