Melancólica
[Crônica de 7 de abril de 2004]
Quando eu era menino, a avenida Lineu de Paula Machado, na frente do Jockey Clube, ficava lotada nos finais de semana. Era gente que ia assistir as corridas de cavalo, na época um programa especial e deslumbrante da cidade de São Paulo.
Quando eu era mais menino ainda, Jânio Quadros tentou acabar com as corridas de cavalo, mas não conseguiu. Elas continuaram um programa especial, bonito e gostoso, durante muito tempo, ainda.
O Grande Prêmio São Paulo era um acontecimento. As pessoas se vestiam como se fossem assistir corrida de cavalo na Inglaterra, as colunas sociais abriam quase que todos os seus espaços e o domingo da corrida ganhava até de jogo de futebol.
Também era programa jantar no hipódromo, vendo do alto das tribunas sociais os cavalos desfilando, depois correndo, para na chegada, às vezes, ter a emoção extra do cabeça a cabeça.
Mas o que Jânio Quadros não conseguiu, as loterias conseguiram e rapidamente. Em menos de 20 anos o governo, aumentando a massa das loterias à disposição do brasileiro, acabou com o Jockey cheio.
Hoje, passar pela avenida Lineu de Paula Machado nas tardes de domingo é melancólico. Dois ou três carros parados quase que em frente da entrada principal do clube é tudo que sobrou das filas imensas, que tomavam os dois lados da avenida, estacionados nos finais de semana.
É verdade que atualmente pode-se estacionar dentro, no estacionamento que era exclusivo para sócios. Mas isso não muda em nada o quadro triste do clube vazio, ainda que com os restaurantes cheios. O pessoal que vai aos restaurantes não está lá pelas corridas de cavalos. Está porque é gostoso. As corridas são só um detalhe.
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