O Sabiá canta de dia
Nesta época do ano, os sabiás cantam durante a noite. Tem quem diga que é malandragem dos mais espertos para conquistarem as fêmeas deslumbradas com as luzes da cidade e que perdem a hora e querem ficar acordadas até mais tarde.
Tem quem diga que os sabiás repetem a aventura humana, quando os sambistas montavam suas rodas madrugada a fora, fazendo música, fumando, bebendo cachaça e encantando as cabrochas que pisavam os astros distraídas, sem saber que a ventura desta vida é a cabrocha, o luar e o violão.
Tem quem goste e quem não goste. Quem acorde e se encante e quem não durma e perca a paciência. O canto dos sabiás, no meio da madrugada, desperta sentimentos contraditórios e nem sempre agradáveis.
Mas não há como, durante o dia, dizer que o canto dos sabiás não é maravilhoso. Um hino à vida, ao mais bonito e mais poético, como se Deus tivesse dado às aves o dom mágico de reinterpretar o belo e criar música com tanto talento quanto Mozart.
Tem um sabiá que frequenta o jardim da minha casa e que tem a capacidade de cantar como um anjo. E canta alto ao ponto de, quando estou falando no telefone, quem está do outro lado ouvir o canto do sabiá e perguntar o que é aquela música.
Cada um sabe de si. Eu gosto dos sabiás na madrugada e sou apaixonado pelo sabiá cantando de dia, como se sua missão fosse alegrar o meu jardim.
É curioso… A vida segue em frente e ninguém consegue pará-la. Quando eu era menino, as aves que mandavam na cidade eram os pardais. Os pardais sumiram de São Paulo e abriram espaço para a multiplicação dos sabiás. Bem-aventurados sabiás que cantam como os anjos!
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