São Paulo a quatro mãos
[Crônica de 25 de fevereiro de 2014]
Algumas crônicas nascem com a participação de outras pessoas. Essa é uma delas. Se o grande Juca de Oliveira não tivesse me escrito um e-mail comentando um artigo meu no Estadão, ela não nasceria. Mas ele escreveu. Então, ela ganhou vida e com ela voltou uma São Paulo completamente diferente da cidade atual.
Uma cidade onde andar de noite era programa, depois do jantar no restaurante de estimação, no caso, o bom e velho Gigetto, de onde o Juca e seus amigos saíam a pé pela Rua Martins Fontes, até a esquina com a Major Quedinho, onde compravam o Estadão saído do forno e seguiam em frente, batendo papo pela Avenida São Luiz, Ipiranga e São João, até chegarem no saudoso Jeca, onde se sentavam no balcão para tomar o último cafezinho do dia.
Era hora de abrir o jornal e ler as críticas do Sábato Magaldi, Décio Almeida Prado e Delmiro, comentando os espetáculos que eles tinham assistido no começo da noite, antes do jantar, mas já anunciando a madrugada.
E que grupo! Juca de Oliveira, Flávio Rangel, Jony Herbert, Antunes Filho, Eva Wilma, Stênio Garcia, Cleyde Yáconis e, às vezes, Cacilda Becker e Paulo Francis.
A fina flor do teatro paulista. As divas, as grandes atrizes e os grandes atores, em companhia dos diretores e dos cenógrafos, andando pelas ruas da cidade com a tranquilidade de quem sabe que fez bem-feito o que deveria fazer naquele dia e a certeza de que a madrugada é uma boa amiga.
Imagine nos dias de hoje os atores globais andando como quem não quer nada, jogando conversa fora, pelas ruas e avenidas do Centro Velho de São Paulo. Nem de carro blindado a cena é crível.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.