Deus nos perdoe
Deus nos perdoe! Que a remissão dos nossos pecados sirva como alento para uma brisa fresca entrar em cena e espantar o calor infernal que come solto, muito antes dos primeiros dias de verão.
Eu sei que tem muita coisa errada, que o ser humano abusou da boa vontade das forças celestes, que o Arcanjo Gabriel tem toda a razão de estar bravo e São Padro está absolutamente certo ao fechar as torneiras das nuvens.
É verdade, o pecado come solto. Aos sete pecados capitais originais já se juntaram pelo menos outros sete e os pecados comuns vão enchendo as sacristias das igrejas, enquanto os profetas, os apóstolos e os bispos prometem o fim do mundo, ou não… depende do dízimo.
Não tem água fria para todo mundo. Não tem gelo para todo mundo e as contas de energia vão explodir porque o uso contínuo e massivo do ar-condicionado é muito mais do que nossa fraca rede de distribuição suporta.
Não tem para onde correr. O Tietê está poluído, o Pinheiros está poluído, os encanamentos que cortam a cidade estão poluídos. A vida e os sonhos, incluídos os pesadelos, como sonhar que se está comendo nhoque, estão poluídos.
É muita poluição. É muita falta daquilo tudo que poderia fazer a vida feliz, mas que não consegue, porque não chega no palco, nem conduz a orquestra. O quadro está feio. Se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.
Certo está o lambari que, quando vê traíra nadando, se fecha na toca. Peixe grande só é menor para um peixe maior.
O trânsito não anda? Mas o que é o trânsito diante da canícula que come solta e maltrata os bons e os não tão bons com a indiferença da natureza em domingo de cachorro-quente? Você não gosta de cachorro-quente? Problema seu. O mundo gira, a mostarda arde e o calor esmaga.
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