Na contramão
[Crônica de 2 de novembro de 1998]
Nos dias de hoje é mais sensato fazer ao contrário. Na medida que mais de um milhão de pessoas costumam deixar a cidade nos fins de semana prolongados, o melhor, durante eles, é ficar em São Paulo, aproveitando o que a metrópole oferece e que nesses dias, ao contrário do que acontece no resto do ano, fica acessível e fácil de usar.
Cinemas, teatros e principalmente restaurantes, nos feriados prolongados, transformam-se em locais quase que de paz, de meditação zen, da tai chi, ou outra arte que traga paz ao espírito e descanso ao corpo.
Enquanto nos dias normais São Paulo é uma enorme fila que se arrasta desde as ruas até as bilheterias, passando pelos palcos e pelas plateias, nos fins de semana compridos a cidade se encolhe, fica menos do que uma minhoca, pedindo pelo amor de deus para ser usada no que ela tem de melhor.
Só isso é suficiente para que eu queira fazer as coisas na contramão, ao contrário da maioria.
A maioria vai eu fico, a maioria fica eu vou. o resultado é que acabo fazendo as coisas no meu ritmo, que é mais lento e não gosta do “agito acima de tudo”.
Assim, acabo aproveitando a praia quando a praia está mais vazia, como aconteceu no fim de semana depois do 12 de outubro.
É verdade que o tempo, para completar, estava bem ruim, mas, mesmo assim, deu praia no sábado e, no domingo, entre duas trovoadas, deu para andar até o fim das Asturias e voltar, quase sem tomar chuva.
Aliás, eu preciso dizer que chuva na praia é uma coisa que não me amola, nem atrapalha.
Gosto de ver o mar alisando sob o manto de água caindo, como gosto de ver as árvores dobrando sob a força do vento que arrasta o assobio de seus segredos em sua rota destrambelhada.
E, para completar, a imigrantes estava vazia, permitindo uma volta em pouco mais de uma hora, o que, nos feriados, é impossível.
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