O dobro ou nada
O impressionante em São Paulo é a velocidade com que a cidade muda de cara. Ontem era assim, hoje é assado e amanhã já será tudo novo, de novo.
Em poucos anos, a cidade é outra cidade, com cara diferente, exceto o trânsito, que segue na sua toada rumo ao caos com a fidelidade dos cisnes nadando nos lagos suecos.
Se até agora era assim, agora não é mais e o não é mais se reflete, antes de tudo, no tamanho dos novos empreendimentos. Não só para cima, mas para os lados. A massa dos novos edifícios é pantagruélica e come quarteirões inteiros, ocupando a área que antes dava guarida para cinco ou seis prédios de todos os tipos.
A ânsia de crescer é tão forte que até prédios icônicos, como a antiga sede da Agência de Propaganda DPZ, na Avenida Cidade Jardim, foi posto abaixo, com mais quatro ou cinco vizinhos, entre eles, um tradicional posto de combustível, para dar lugar a um único empreendimento, que vai ocupar meio quarteirão.
Pela cara do que já está pronto, serão edifícios com muito vidro e concreto, se erguendo a alturas inimagináveis e se espalhando terreno a fora, com a sem cerimônia de quem sabe que veio para ficar. Pelo menos pelas próximas décadas.
Isso mesmo, pelas próximas décadas. Em São Paulo, nada é definitivo. O que parece sólido como rocha, imutável e um marco perene na arquitetura da cidade, nem sempre se aguenta mais do que 20 anos e dá espaço para outros prédios, normalmente maiores do que eles, que, depois de um tempo, também passam por retrofit ou são simplesmente derrubados, como aconteceu com a sede da DPZ.
Eu não sei como a cidade vai ficar, nem como será sua cara, mas nos próximos anos assistiremos surgir uma nova São Paulo.
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