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Os periquitos tomaram conta da cidade

[Crônica de 19 de junho de 2009]

Quando eu era menino, São Paulo era território dos pardais. Como quando meu pai era menino, a cidade era dos tico-ticos, ele tinha ódio dos pardais, a quem ele acusava pelo fim dos tico-ticos.

Hoje a cidade não é nem de um nem de outro. Ainda que com os pardais e os tico-ticos retornando, quem manda são os periquitos.

A quantidade de aves que habitam em São Paulo é impressionante, e deveria ser assustadora, pela rapidez com que o fenômeno se deu. Em menos de 30 anos o espaço urbano deixou de ser apenas do homem, dos ratos e dos pernilongos, para encampar a enorme quantidade de aves que habita por aqui.

De urubu a gavião, de rolinha a sanhaço, passando pelos mais variados tipos de sabiás, e pelos bem-te-vis guerreiros, a cidade aceita todos, como se fosse o último refúgio, ou, pelo menos, o mais inteligente.

A verdade é que as aves estão aqui porque na cidade a vida é muito mais fácil.

Eu já falei do gavião que fura os sacos de lixo na Cidade Universitária, e como, por isso, a briga pela vida pode ser muito mais fácil do que na natureza.

Para que brigar, voar atrás, tomar bicadas, passar dias sem se alimentar, se na cidade o lixo é farto de iguarias muito melhores e mais fáceis de serem encontradas?

Mas, entre todas, incluídas as pombas domésticas, quem vai se transformando no herdeiro dos pardais e em senhor do pedaço são os periquitos. São de todos os tipos, cores e tamanhos, formando uma enorme comunidade que se espalha por todas as regiões, fazendo algazarra, enquanto devoram os frutos pendurados nas árvores. Hoje, a cidade é deles e é belo vê-los voando.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.