O tapete de flores
[Crônica de 5 de agosto de 2009]
As flores caem. No seu lugar surgem sementes e assim as árvores se perpetuam, com auxílio dos pássaros e das abelhas, permanecendo parte do cenário.
Cada espécie tem sua forma de interagir para garantir a polinização, o cruzamento entre macho e fêmea do qual decorre o surgimento de novas mudas, que com o tempo, se transformarão em plantas, desde as menores flores, até os gigantescos jacarandás.
No ritmo da natureza, seguindo as estações, ou ficando loucas por causa delas, as plantas fazem sua parte, e garantem a sobrevivência, ainda que em ambiente inóspito, como são as grandes cidades.
Se para algumas a discrição é a alma do negócio, e cada passo deve ser dado em silêncio, sem chamar atenção, ou provocar alvoroço, outras só sentem bem dentro do próprio show. Se revestindo de luzes e brilhos, em cada momento de seu ciclo.
Sorte nossa que as coisas aconteçam assim.
Agora mesmo a cidade aproveita a soberba dos ipês para ficar mais bela, ou pelo menos esconder o feio de suas calçadas sujas, invariavelmente cinzas e rachadas.
Quem passa perto de um ipê roxo pode ver o tapete que vai se formando no chão a sua volta.
Com o fim de sua florada deslumbrante, a queda das flores cria outro cenário de sonho, enfeitando as ruas e as calçadas com o roxo caído das árvores, como que para embelezar o chão triste e frio, ainda que apenas por alguns dias.
Com isso a festa se prolonga. Graças aos ipês São Paulo preserva por mais alguns dias um pouco de beleza e muita poesia.
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