São Paulo vai curtindo São Paulo
[Crônica de 15 de janeiro de 1999]
Depois de um longo tempo quase que odiando São Paulo, São Paulo começa a curtir São Paulo, descobrindo o lado belo da cidade e as coisas que fazem a vida melhor.
Muito mais do que uma simples mudança de moda, o redescobrimento de são Paulo traz em si a aventura da vida, do contentamento de se estar vivo, e da busca pelas suas raízes.
Nunca, pelo menos desde o quarto centenário da cidade, tanta gente fotografou São Paulo, escreveu sobre São Paulo, escarafunchou nos porões dos arquivos, para descobrir São Paulo.
É um processo maravilhoso no qual a alma da cidade vai sendo despida e se apresenta não boa, porque São Paulo é muito mais complexa, mas rica, de uma riqueza antiga e sábia, que resgata todo um jeito positivo de ver a vida e de aceitá-la e de vive-la.
São Paulo é fashion! É moda! É realização e retorno!
São Paulo vive o momento do encontro do cidadão com a cidade, o descobrimento de suas raízes antigas, tão antigas quanto a chegada do branco na América, e tão vária quanto os povos que há mais de 400 anos ajudam construi-la.
De repente, índios ressurgem no sangue do paulista antigo, casado com a filha do japonês, que se casou com a filha do italiano, que era cunhado do sírio, que era com-cunhado do judeu, que é descendente torto de um velho bandeirante, casado com uma mameluca, filha de um potentado da terra e de uma índia carijó que trabalhava na casa de sua fazenda.
As chaminés das fábricas ganham poesia. O congestionamento de suas ruas ganha poesia. O progresso desordenado de seu crescimento vira poesia no concreto armado e no asfalto que se contrapõem, para fazer do pôr do sol da cidade o mais belo de todos.
São Paulo redescobriu São Paulo, por isso a cidade está mais bonita e mais alegre. Tomara que o amor de seus filhos seja para sempre, porque, hoje, amada, São Paulo está mais humana.
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