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As chuvas e as gentes

As chuvas estão caindo com a regularidade de sempre, mas com a nova intensidade introduzida pela soma do El Niño com as mudanças climáticas. O resultado é a tragédia como pano de fundo para as pessoas mostradas pela televisão, depois do temporal, com os olhos perdidos na distância, sem esperança e sem futuro, apenas com a certeza da perda, muitas vezes irreparável, causada pelas águas que levaram vidas, objetos, bens e sonhos em poucos minutos, como se os esforços de uma vida tivessem tanta importância como uma flor de manacá caindo no chão.

As tempestades são um padrão desta época do ano. Sobem do Sul para o Sudeste, deixando uma faixa de destruição ao longo da temporada, que ainda está longe do fim. Tudo que aconteceu até agora é passado. Ainda tem o que pode acontecer na frente e ninguém sabe o que vai ser.

Tanto faz, a conta até agora está cara. Cara socialmente e cara individualmente, no bolso de cada um atingido com mais ou menos intensidade pelas águas que correm pelas ruas, aplainam morros, derrubam casas e entram sala a dentro sem a menor cerimônia.

Ninguém mora em área de risco por esporte ou opção. De outro lado, é obrigação da Prefeitura ordenar o solo da cidade para impedir ocupações irregulares, ainda mais em áreas de risco.

Quer dizer, se ficar, o bicho come; se correr, o bicho pega. A solução do problema é complexa e não tem jeito fácil de arrumar as coisas. Nem rápido.

Vai continuar chovendo e continuar acontecendo catástrofes. Cada pessoa atingida é uma catástrofe; cada casa inundada, cada recordação perdida, cada sonho desfeito é uma catástrofe.

O duro é que tem muito pouco que pode ser feito para evitar os danos. Sobra minimizar as perdas, mas mesmo isso é muito difícil.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.