Choveu de novo
[Crônica de 8 de março de 1999]
Choveu de novo, e de novo, e de novo, cada uma delas inundando a cidade de uma forma diferente da outra, mas todas com dois pontos em comum: a destruição e o transtorno.
Não há quem possa dizer que estando em São Paulo durante as chuvas não tenha sido de alguma forma afetado. É verdade que uns são mais afetados do que os outros, mas todos são de alguma forma afetados.
A chuva não perdoa e as tempestades de verão, que em fevereiro têm a tradição de serem sempre intensas, fazem questão de preservar sua fama, desmoronando em cima de quem está em baixo, como se o céu caísse sobre nossas cabeças.
Não tem para ninguém. Quem está dentro de casa, dependendo da região, não se molha, mas se tentar sair fica parado no trânsito como qualquer outro, por mais importante que seja.
Infelizmente, existe os que mesmo dentro de casa se molham e estes comem o pão que o diabo amassou porque, mais uma vez, choveu antes das providências possíveis terem sido implementadas pelas autoridades de todos os níveis, que insistem em usar como desculpa para a tragédia causada por sua omissão a tradicional explicação de que choveu mais que esperavam que chovesse.
É sempre assim. Desde que São Paulo é São Paulo, lá se vão quase 500 anos, sempre choveu mais do que deveria ter chovido.
Foi só por isso que durante um longo tempo, durante o período colonial, era proibido se morar nas áreas das várzeas do Tietê, do Tamanduateí e do Pinheiros.
Todo mundo sabia que inundava, e que com a inundação vinha a morte e a destruição.
Não existe solução para esse drama e é aí que está o verdadeiro drama: São Paulo, faça o que fizerem, vai ter sempre um pedaço debaixo d’água. A única coisa possível de se fazer é diminuir este pedaço.
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