O largo da matriz paulistano
[Crônica de 2 de março de 2004]
As cidades do interior têm no largo da matriz seu coração. É neles que as coisas acontecem, que vida gira, como nos footings dos domingos dos anos 60. Homem andava para um lado e mulher para o outro. O namoro acontecia na hora que se cruzavam, dizendo um oi baixinho, mandando um beijo escondido, tudo de longe, como nos bailes da mesma época em que a distância regulamentar era “palmo e cima e palmo em baixo”.
É no largo da matriz que chegam as procissões. É em volta dele que moram as famílias mais importantes, que fica a Câmara e antigamente, antes da construção de Brasília desencadear uma fúria construtiva rara que levou as prefeituras para terrenos mais amplos, ficavam também as sedes administrativas dos municípios.
São Paulo, pelo tamanho exagerado de sua área urbana, tem mais largos da matriz do que qualquer outra cidade brasileira. Por exemplo, a Freguesia do Ó tem largo da matriz, a Penha e Santo Amaro também, e Moema e Pinheiros, todos têm o seu, maior ou menor, mais belo ou mais feio.
Mas o verdadeiro largo da matriz de São Paulo é a praça da Sé. Nem poderia ser diferente, porque é lá que fica a Catedral, símbolo imponente da fé e do poder do dinheiro paulistano.
Só o entorno que não é o mesmo das cidades do interior. Em volta dela os prédios não são belos, nem ricos, tirando o Tribunal de Justiça que na sua imponência, é deslumbrante.
Apesar disso, a praça da Sé tem caráter, tem força e tem tradição. Já assistiu grandes momentos e já serviu de palco para as horas mais tristes da vida de São Paulo. Só isso paga todos os seus preços.
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