A ponte estaiada
[Crônica de 20 de maio de 2008]
São Paulo tem cartão postal novo. E bonito. Não há como dizer que a Ponte Estaiada não é bonita. Ela é. E com sua altura, pode ser vista de longe, servindo de marco numa cidade onde os marcos não primam pela beleza.
Que o diga o Borba Gato, ponto de referência no meio de Santo Amaro. Ou o Cebolão, na junção das marginais.
A Ponte Estaiada é bela. É leve. Flutua no céu, pendurada sobre o rio, como versos de uma ode inacabada, escrita desde o começo dos tempos para homenagear a cidade.
São Paulo tem partes muito feias e partes deslumbrantes. Umas se misturam as outras com a sem cerimônia das favelas que entram bairros ricos adentro, tomando espaços e erguendo barracos, que se transformam em sobrados e atraem mais gente, numa perseguição incansável, entre o bem-estar a e necessidade de bem-estar.
A Ponte Estaiada tem algo de lúdico em suas linhas suspensas pelos cabos se abrindo ao longo de seu corpo, parecido com duas serpentes que se cruzam uma para cada lado, na defesa do ninho.
Pendurada pelo alto X que se ergue na cabeceira da margem direita do rio, ela se lança ousada em direção da outra margem.
Carrega os sonhos de uma cidade alucinada e a ilusão de que vai resolver alguma coisa.
Não vai. O trânsito paulistano é caótico demais para uma única ponte resolver o que quer que seja.
Pelo contrário, o mais provável é a Ponte Estaiada se transformar em mais uma sucursal do inferno, com os veículos parados em cima dela. A diferença é que será uma sucursal bonita, como os versos de Dante.
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