Galeria Prestes Maia
[Crônica de 15 de dezembro de 1997]
O centro da cidade tem entre os seus segredos alguns tesouros que são pouco conhecidos ou nos quais quase ninguém presta muita atenção. São prédios, vistas, cantos, praças, passagens, mais ou menos escondidos e que pela pressa da vida moderna acabam mal sendo vistos por quem passa por eles, ou até por dentro deles, sempre correndo, sempre atrasado, sem prestar atenção.
Alguns prédios do Centro Velho são verdadeiras obras de arte, e, mesmo os de gosto duvidoso, inseridos no contexto da época em que foram erguidos, normalmente como prova de poder, não deixam de ter o seu encanto todo especial, compondo uma região que poderia ser linda, não fosse o descaso da cidade, que se movimenta para novas regiões abandonado as velhas à própria sorte, como acontece com as pessoas.
Para falar das vistas, o cenário que se abre do alto dos prédios mais altos é uma visão impressionante, mas, quem sabe, mais bonitas do que ele, são as vistas das ruas, ou das praças, como o Pátio do Colégio, visto por entre os dois prédios da secretaria da Justiça. Entre tantos lugares, um merece destaque especial: a Galeria Prestes Maia, unindo o Vale do Anhangabaú à Praça do Patriarca.
A galeria é linda, com seus mármores imponentes e a estátua do Moisés servindo de contraponto para as escadas rolantes por onde milhares de pessoas passam todos os dias, sem saber quem é o homem da estátua, ou sem reparar na riqueza da construção.
Me disse o Júlio Neves que existem planos para o Masp assumir a galeria, criando no centro da cidade uma espécie de filial do museu, o que lhe daria um uso mais nobre, além de valorizá-la como ela merece.
Como no Brasil tudo demora e volta e meia as coisas não acontecem, é esperar para ver. E torcer, torcer muito para que a Galeria Prestes Maia seja coberta de quadros, abrindo para o povo as portas da beleza.
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