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Um absurdo mais um absurdo

É um absurdo, mas o Brasil tem um feminicídio a cada seis horas. Isso mesmo! A cada seis horas uma mulher é morta porque é mulher. Em algum lugar, está tudo errado. As mulheres não têm que ser mortas, têm que ser valorizadas, por tudo que são e representam.

Sem a mulher o mundo teria menos poesia, menos beleza, menos encantamento. A vida seria mais dura e o caminhar sobre a terra mais áspero. Faltaria compreensão e paciência, resistência e luta.

Por isso, matar uma mulher a cada seis horas porque ela é mulher fere frontalmente qualquer bom senso, qualquer noção de realidade, hierarquia, distorce a ordem do mundo, envergonha o ser humano.

Mas se você acha que esse é o pior absurdo que pode acontecer e que nos coloca numa posição indecente no ranking de feminicídios no mundo, existe outra barbaridade pelo menos tão brutal e tão inacreditável quanto essa.

Pasme! Quatro crianças são estupradas por hora no Brasil. Em uma única hora, o número de estupros de crianças é semelhante à totalidade dos feminicídios que acontecem em 24 horas.

Se a luta de gênero faz todo o sentido, se combater o racismo e outras formas de discriminação precisa ser política de Estado, se nos últimos anos essas discussões alcançaram a grande mídia e as redes sociais, a violência sexual contra crianças e adolescentes segue invisível, como se não existisse, apesar do número de estupros por hora ser público e estar à disposição de quem quiser saber mais sobre o tema.

É monstruoso saber que quatro crianças são estupradas por hora, mas é mais monstruoso ainda saber que mais de 70% dos casos acontecem dentro de casa e que quase 50% são cometidos por pais e padrastos, ficando  a maioria dos outros por conta de irmãos, avôs e primos.

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Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.