A cidade que anda
[Crônica de 25 de junho de 2003]
Desde seu começo, São Paulo tem uma mobilidade impressionante. Por isso, desde seu começo, a administração da cidade sempre correu atrás dela, indomável e apressada, em todas as direções, pelo enorme planalto de Piratininga.
Durante quase 400 anos, a cidade foi uma vila pequena, cercada por outras vilas pequenas, que, de repente começaram a ser engolidas pela metrópole em movimento que viria explodir no século 20.
Quando se pensa que em 1870 São Paulo tinha pouco mais de 20 mil habitantes, fica difícil entender o que aconteceu e como a chegada do café mudou de tal forma a geografia do estado.
Nos primeiros 400 anos a cidade se resumiu a um emaranhado de casas encarapitadas nos morros em volta do pátio do Colégio. Baixas, feias, sem graça, de taipa de pilão, por séculos as casas mais ricas ficavam fechadas a maior parte do ano, quando os proprietários estavam nas grandes fazendas espalhadas em volta.
Depois, no princípio lentamente, mas sempre aumentando de velocidade, São Paulo saiu dos limites originais, desceu os morros do centro, tomou os campos em volta, invadiu várzeas, escalou colinas e montanhas, crescendo em direção da Mooca, da Penha, do Ipiranga, dos Campos Elíseos, até atravessar o rio Tietê, para Santana, Casa Verde, Freguesia do Ó. E o rio Pinheiros, rumo ao Butantã, Cidade Jardim, e Morumbi.
Em menos de 150 anos a região mudou de cara, ocupada por uma das maiores áreas urbanas do mundo. Da vila colonial pouco sobrou, exceto a vontade indomável de seguir avante, criando riquezas e deixando taperas pra trás.
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