Os dias de outono
[Crônica de 26 de maio de 2005]
Os dias de outono são dias capazes de oscilar de um extremo a outro, passando de cinzas a profundamente azuis, de frios a quentes, de desagradáveis e muito gostosos.
Não que nas outras estações os dias não possam fazer a mesma coisa. Eles fazem, mas, normalmente, os extremos alcançados são menos radicais, mais próximos e mais amigos, como se cumprisse aos dias de outono judiar da gente, enquanto os outros dias do ano fazem o contraponto, para ficar clara diferença.
Alguns dias de outono são terríveis. Doem nos ossos, na umidade fria da garoa fina que tortura as pessoas e transforma as ruas em ringue de patinação, tirando dos motoristas a capacidade de dirigir seus carros, transformando as ruas em enormes parques de diversão, onde o máximo da graça é bater nos outros porque o breque não breca.
Outros, conseguem ser o oposto. São lindos, com uma temperatura gostosa, com pássaros cantando nas árvores quase sem folhas, esperando a grande florada das azaleias, que se abrem e se entregam inteiras, como a virgem da ilha do Pacífico, se deixando imolar, em honra do vulcão, para a sobrevivência da tribo e para que o herói do filme, a quem ela salvou durante quase duas horas, possa sair de cena, abraçado com a mocinha loira, sem peso na consciência.
O outono pode ser mais bonito que qualquer outra estação. Pode acontecer, como há muito tempo, quando eu estava no CPOR, de ser quente quase que o tempo inteiro. Pode também ser frio e úmido, mas, acima de tudo serve de exemplo e de certeza: depois da tempestade, em algum o momento, a lua cheia sai de trás das nuvens, num céu mais azul que em qualquer outra época do ano.
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