Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

O saque faz parte do quadro

Não tem nada de novo debaixo do sol. É estarrecedor, mas o saque faz parte do quadro. Em todas as grandes tragédias, uma das primeiras providências é preparar as forças de segurança para conterem os saques que se multiplicam e explicam por que muitas famílias preferem correr risco de vida a sair de suas casas. 

O saque em meio à tragédia do Rio Grande do Sul mostra o lado covarde, mesquinho e perverso do ser humano. Levar vantagem em cima da desgraça do outro, quando o outro não pode reagir. 

Quem sabe uma das cenas mais impactantes sobre o tema no cinema seja o saque de Atlanta, em “E o Vento Levou”. E, no mundo real, os saques em Nova Orleans, depois do furacão Katrina. No final da Segunda Guerra Mundial, a polícia alemã, em Berlim, punia com execução sumária os cidadãos pegos saqueando. 

Quem quiser a violência do mundo moderno, em acidentes com caminhões, não é raro deixarem o motorista preso nas ferragens, enquanto as pessoas saqueiam a carga. Aliás, numa situação parecida, anos atrás, um conhecido sofreu um acidente na Rio-Santos e ficou preso nas ferragens do carro. As pessoas que chegaram logo depois não o socorreram, mas levaram tudo de valor que tinha no carro, começando pela carteira.

É brutal, mas a ação coloca dúvidas sobre a bondade inata do ser humano. Será que o ser humano é bom? Quantas vezes já assistimos a fatos semelhantes? Na Serra Fluminense, anos atrás, não foi diferente.

O saque mostra o lado mais feio e mais baixo do ser humano. Mostra a covardia, o egoísmo, a oportunidade de levar vantagem, o descaso, ou melhor, o desprezo pela sorte do próximo. Especialmente se o próximo estiver distante. A punição para os saqueadores tem que ser exemplar, se não for por nada, para resgatar a dignidade humana.

___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.