O condomínio
O simpático edifício aparece calmo e humano, em sua arquitetura de fins de 1940. Cercado por outros prédios mais altos, construídos em fins dos anos 1950, início de 1960, se destaca deles pela altura menor, pelo corpo mais quadrado e pelas amplas janelas que tomam toda a frente das salas.
Desde o início, seus moradores se distinguiram por um traço que perdurou durante décadas e que fez do condomínio um lugar pacífico, encravado no enorme universo dos prédios agressivos que tomam de assalto, cada vez mais vigoroso, as cidades ao redor do mundo.
Quando da incorporação, os comparadores mais ou menos se conheciam, sabiam quem era o outro, o que fez com que a convivência se desse de forma amigável, com todos conversando com todos, todos dividindo amigavelmente as áreas comuns e todos interagindo de forma civilizada com os funcionários, que, por isso mesmo, até os dias de hoje, estão no prédio há décadas.
Quem sabe pelo fato dos compradores iniciais permanecerem com seus apartamentos por muitos anos, o clima inicial foi se perpetuando, com os novos proprietários achando ótimo dividirem seu espaço com gente civilizada, que, evidentemente, tinha suas diferenças e seus pontos de vista, mas que sempre concordaram em conversar pelo bem do todo.
Assim se passaram décadas, com o condomínio seguindo seu destino de forma harmônica e gostosa para todo mundo.
Um belo dia, um novo proprietário chegou no prédio. De cara, implicou com o zelador; depois, criou caso com o síndico; e começou a arrumar encrenca onde nunca houvera. A coisa começou a ir mal e ficou pior depois que sua irmã também comprou um apartamento lá. Hoje, a paz ainda permanece, mas a cada dia ela sente um novo soco, que a ameaça. Tem gente que não sabe que bom mesmo é viver em paz.
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