O cavalo caramelo
A catástrofe do Rio Grande do Sul mostrou o ser humano como o ser humano é. De um lado, um monstro, de outro, um ser maravilhoso. Os saques, assaltos, furtos e ações de bandos de criminosos encheram o Brasil de vergonha. Nada que não aconteça no resto do mundo, mas quando é na nossa casa, em meio a uma tragédia indescritível, fica muito pior, nos diminui, nos faz ter vergonha pelos que conseguem atacar o próximo quando o próximo não tem a quem recorrer, completamente abandonado, derrubado pela natureza.
Se, de um lado, as pessoas refugiadas nos telhados eram uma cena de levar às lágrimas, saber que tropas que seriam importantíssimas no combate à cheia precisaram ser desviadas para proteger os imóveis abandonados é apavorante e, não tem como, desperta sentimentos duros.
Mas a imagem que vai permanecer é a solidariedade de milhares de pessoas que perderam tudo e que, em meio à tragédia, não hesitaram um minuto em se somar à luta contra as águas e à remoção das pessoas ilhadas para lugares seguros.
Quem sabe nenhuma cena seja tão marcante como o cavalo no alto de um telhado, se equilibrando com ar conformado, cercado de água por todos os lados. Como o animal conseguiu subir no telhado em meio à inundação que tomou a região? Suas patas não são feitas para galgarem um telhado e permitir que um cavalo se equilibre em cima dele…
Mais maravilhoso, todavia, foi ver as cenas do resgate do cavalo Caramelo, realizado com todo o cuidado pelos bombeiros de São Paulo, auxiliados por veterinários, que tomaram as providências para sedar o animal e permitir que fosse colocado num bote e levado para terra seca. Imagens como essa não perdoam ou justificam os bandidos, mas engrandecem o ser humano.
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