A divisão da solidão
Numa crônica genial, verdadeira e triste, meu amigo o poeta Rodrigo Leal Rodrigues entrou de sola num tema fascinante e terrível, que é a divisão da solidão a dois, quem sabe a mais cruel de todas as solidões.
Como ele colocou com admirável precisão, quando as palavras trocadas entre os amantes deixam de ter o mesmo significado, impedindo a comunicação entre eles, porque um não entende mais o que o outro quer dizer, é sinal de que algo profundamente errado está acontecendo.
Quando a língua falada pelos amantes não os comove mais, nem lhes toca a alma, deixando-os indiferentes, um deitado ao lado do outro, é porque a razão de estarem juntos se perdeu, sem que qualquer um deles tivesse culpa, devorada pelo turbilhão de suas vidas, que deixaram de pulsar na mesma sintonia.
Nada é mais triste do que os amantes que se separam sem que haja uma razão clara que justifique a separação.
E, no entanto, a maioria das separações se processam assim. Um dia um acorda, olha para o lado e sente que o outro não lhe diz mais nada, que ele não acende mais a chama que o fazia mover montanhas, nem o enternece.
Este é o ponto infinitamente triste: a presença do outro não mais no enternece!
Aquele que por tanto tempo, pela simples presença ao nosso lado, era capaz de levar-nos às lágrimas, não nos diz mais do que o canário na gaiola, ou a mulher que atravessa a rua, do outro lado da janela.
A realidade explode com a força de um terremoto, mas a maioria, mais por pena de si mesmo do que do outro, toca em frente, fingindo que a comunicação existe e que as palavras ainda batem nas mesmas teclas, arrancando as mesmas sensações.
E os dois se habituam de tal forma a viver com a mentira que a mentira vira uma cortina que os impede de despertar; os impede de tentar recomeçar, acima de tudo, prestando muita atenção um no outro.
Como meu muito obrigado ao Rodrigo Leal Rodrigues pelo tema fantástico!
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