Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

As paineiras da ponte

[Crônica de 2 de maio de 2003]

A ponte da Cidade Universitária tem alguma coisa de mágica, alguma coisa que a faz diferente das outras pontes da cidade.  Lá o pôr do sol é mais bonito do que em qualquer outra ponte e o rio visto de cima, dos dois lados, se não se prestar atenção na cor da água, chega a ser poético, abrindo seu curso para imensidão do universo.

Ou dos sertões que ele separava da vila colonial, eternamente vazia porque os homens estavam nas bandeiras e a vida acontecia muito mais nas fazendas que nas ruas sujas e estreitas, em volta do morro do colégio.

A ponte da Cidade Universitária tem algumas das manias das outras pontes de São Paulo e a pior delas é com certeza o trânsito, que para porque a marginal para ou a praça Panamericana entope.

Até aí, tudo normal, as outras pontes também param, e tanto ou mais que a ponte da Cidade Universitária.

O que as outras pontes não têm, e isso faz toda a diferença, são as paineiras plantadas ao lado, na entrada de quem vem do Alto de Pinheiros para o portão da Universidade de São Paulo.

As paineiras da ponte da Cidade Universitária são árvores especiais, que todos os anos, na época da florada das paineiras, se unem numa festa conjunta, misturando o branco e o rosa de suas flores numa exuberância maravilhosa, feita de vida saudando a vida, como se elas estivessem ali de propósito, homenageando quem segue as rotas perigosas do sul e do oeste, em nome dum passado deliberadamente escondido, quando os paulistas saiam de seu planalto, desafiando o desconhecido de cada roteiro, em busca dos sonhos enterrados nos diversos Eldorados arrancados da terra.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.