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A chegada dos ipês

Os ipês roxos entraram com tudo. Chegaram matando e mostrando o pau, como se não tivesse hora, nem tempo para o desfile deslumbrante das árvores floridas. Em todos os cantos da cidade. Sem exceção, numa demonstração clara de democracia aplicada. Sem pedir palmas ou elogios. Simplesmente floridos, porque é seu momento e eles são ciosos do que é deles. Não dividem, não emprestam, nem fazem festa. O que é meu é meu, ponto final.

Alguns curandeiros Aku-moais, profundos conhecedores das manias do El Niño e das ondas do Oceano Pacífico, garantem que os ipês chegaram assim para respaldar as cerejeiras que, com sua florada fraca, diferente do que fazem no Japão ou em Washington, lutam pela paz no mundo e pelo fim da estupidez desarrazoada que tomou conta das redes sociais.

Tem quem diga que não é nada disso. Pajés guaianases se uniram aos timbiras remanescentes e marcaram uma marcha triunfal pela Avenida Paulista para darem apoio à florada dos ipês, presente do grande Tupã, preocupado com o inverno e a necessidade de colocar beleza nos galhos secos dos ipês e assim vingar a falta de cor que é o padrão do inverno.

Não sei, não tenho bola de cristal. Respeito o conhecimento milenar dos Aku-moais, sua arte de esculpir nas pedras, mas não tenho certeza que tenham mantido vivas as lembranças originais da América do Sul, muitos séculos antes de partirem.

Também não sei se os guaianases entendem de botânica ou se seus conhecimentos passam mais pelas artes culinárias e a melhor forma de preparar um banquete antropófago.

Tanto faz, seja pela razão que for, além de ser a época da sua florada, os ipês roxos estão aí, dando show e com certeza apoiando as cerejeiras que, além de poucas, este ano tiveram uma florada menor.    

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.