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A paineira da praça Vicente Rodrigues

[Crônica de 23 de setembro de 1997]

Pertinho da minha casa, na esquina da rua Camargo com a avenida Afrânio Peixoto, tem uma praça, que faz um círculo no meio da rua, para auxiliar o tráfego, projetado inicialmente para um bairro residencial, mas que, por circunstâncias que fugiram de qualquer controle, com forte ajuda dos políticos de plantão, que, ao longo das últimas décadas não se preocuparam com o futuro da cidade, passou a ser o mais pesado possível, carregado com caminhões de todos os tamanhos e modelos.

Num dos seus lados, tem uma barraca de coco gelado, pastel e outros venenos que dão graça à vida e onde eu para antes de voltar para casa, depois de andar de bicicleta.

Dizem que coco verde faz mal para o colesterol. Pode ser, afinal quem fala é gente que sabe, mas o fato é que eu adoro coco gelado e, depois de andar de bicicleta, o dito cujo fica melhor ainda.

Então eu me sento numa das cadeiras instaladas na calçada ao lado da banca e fico vendo a vida passar, como se não tivesse nada mais importante para fazer.

Minha vista principal, por conta da posição da cadeira, acaba sendo a pracinha no meio do cruzamento.

Pracinha que é o retrato das praças da cidade: maltratada, suja, com o mato tomando o lugar da grama, mas com uma diferença: meia dúzia de quaresmeiras rodeando uma paineira que é a rainha do pedaço.

Pois é justamente desta paineira que eu quero falar. Como todas as paineiras, no inverno ela perde as suas folhas e seus galhos nus, se estendendo para os lados, todos na parte mais alta do tronco, são uma prece desesperada, pela água e pelo calor, capazes de revitalizá-la e cobri-la de verde.

É impressionante como com a volta das folhas a árvore reencontra a sua dignidade.

Imponente, ela parece que cresce, na copa escura que cobre os seus galhos.

A paineira da praça Vicente Rodrigues lembra muito a vida dos homens.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.