Voltar ao passado é perder da vida

Recebi um convite para entrar num grupo chamado “Volta ao Passado”. Não aceitei. Eu não quero voltar ao passado, quero andar pra frente que é o que a vida espera da gente. Tentar voltar ao passado é inútil. O que passou, passou, como a água debaixo da ponte. Depois que foi, não volta, é sempre outra água correndo pelo leito de outro rio. Por isso o rio mira o futuro. Seu negócio é no fim, tanto faz quantos afluentes, chegar no mar, se perder e se misturar com a imensidão das águas do mar. Ser presente e criar futuro, dando água para a nuvem que vai chover na nascente para continuar, sempre diferente, no pedaço de barranco que é arrancado, na lama que assoreia outro trecho, na água que segue em frente, sempre outra, tanto faz as lembranças.

Eu tenho lembranças maravilhosas duma vida que, entre secos e molhados, tem sido boa para mim e para os que me são caros. Perto do que vai pelo mundo, somos privilegiados e as lembranças dessas histórias fazem parte de nossas vidas. Empurram nossas vidas, mas são lembranças, não são mais realidade, não têm volta, ficaram para trás, encobertas pelas brumas do tempo, pela memória que prefere esconder o ruim e o feio que também existiram, mas que, num processo de autodefesa, nós deixamos para lá. É melhor lembrar o bom, os momentos felizes, quando ser herói era fácil e a contabilidade da vida ainda não tinha mandado a primeira fatura.

Não, eu não quero voltar ao passado. O que passou teve seu momento, mas passou. Que bom que a memória guarda as partes boas, os instantes felizes, as noites de lua cheia com a pessoa amada, as aventuras num mundo que era outro mundo e não existe mais.

Viver do passado é reconhecer que se foi derrotado pela vida. Que o presente e seus desafios são fortes demais.  Que o que acontece em volta te faz sentir-se ninguém. Só, sem base e sem apoio, como um fantasma.  

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