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Golfo da América

Um dos problemas do poder absoluto é a falta de discernimento do poderoso, ainda mais quando o poder absoluto é um sonho não tão próximo, ainda que escorado por forças extraordinárias. Ninguém discute ou discorda, o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, é o homem mais poderoso da Terra. Seria pelo simples fato de ocupar o cargo, mas ele vai além. Tem ao seu lado a maioria na Câmara e no Congresso e a maioria dos juízes da Suprema Corte é conservadora.

Só que ele ainda não é um Stalin ou um Mao Tsé Tung. Ele não é o ditador todo poderoso que controla a vida de sua nação a tal ponto que, por uma decisão sua, sem escutar mais ninguém, milhões de pessoas são mortas. Ou, numa escala menor, ele não é sequer um Fidel Castro, que, junto com seu ministro Che Guevara, matou milhares de cubanos, mas sem perder a ternura.

Não, por enquanto, ainda que com dez porta-aviões nucleares e as maiores forças armadas do planeta, ele ainda é o presidente dos Estados Unidos e está submetido a um conjunto de leis que limitam seu poder.

Ao mudar por decreto presidencial uma convenção internacional, como é o caso do nome do Golfo do México, ele se aproxima do ato patético da Rainha Vitória que riscou a Bolívia do mapa quando descobriu que seus navios não podiam chegar lá para vingar uma ofensa ao seu embaixador. 

Por outro lado, o decreto de Trump abre uma avenida superinteressante para algumas lideranças megalomaníacas, que não têm muito noção da sua insignificância histórica. Baixarem atos como o dele,  mudando, por exemplo, o nome da Cordilheira do Himalaia para Montanhas da Reforma Agrária ou o nome do Oceano Atlântico para Mar dos Companheiros. Por que não? Se Trump pode, por que eu não posso? Entre secos e molhados, a vaidade é um pecado capital.      

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.