Jardim Pantanal não é o único
Nas últimas semanas, o Jardim Pantanal entrou na pauta dos noticiários das televisões. As cenas das ruas alagadas e dos moradores que perderam tudo martelaram os horários nobres e não tão nobres, levando autoridades a dizerem o que não deviam, até porque um quadro como a inundação do Jardim Pantanal tem uma imensa dose de demagogia, de forçada de barra para aumentar audiência.
Não, eu não estou dizendo que não é notícia e menos ainda que não deva ser mostrado. O Jardim Pantanal é um exemplo clássico da forma como a ocupação do solo é feita numa cidade como São Paulo e de como os menos favorecidos acabam pagando uma conta que passa a ser deles, porque não têm outro lugar para morar e, depois de se se instalarem, descobrem que o buraco é muito mais embaixo e que sua tragédia simplesmente não tem solução. O local é mais baixo do que a calha do rio.
Cada vez que o rio subir, vai inundar suas várzeas e o Jardim Pantanal está localizado nelas. Não tem como não inundar. E ele inunda rigorosamente todos os verãos em que o Tietê sobe um pouco mais.
Este ano não foi exceção, ao contrário, o Jardim Pantanal ficou debaixo d’água e seus moradores perderam parte de seus bens, comprados com sacrifício, destruídos pelas águas que tomaram o bairro.
O Jardim Pantanal é o retrato do que não deve ser feito, ainda mais em época de emergência climática. Mas ele não é o único ponto crítico da cidade de São Paulo. Milhares de pessoas, em dezenas de outros locais, estão passando situações tão dramáticas quanto as dele.
Agora tem duas coisas a serem feitas: primeiro, impedir que surjam novos “Jardins Pantanais” e, tão importante quanto, encontrar uma solução para as pessoas que moram lá não serem regularmente vítimas das chuvas.
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