Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

Jardim Pantanal não é o único

Nas últimas semanas, o Jardim Pantanal entrou na pauta dos noticiários das televisões. As cenas das ruas alagadas e dos moradores que perderam tudo martelaram os horários nobres e não tão nobres, levando autoridades a dizerem o que não deviam, até porque um quadro como a inundação do Jardim Pantanal tem uma imensa dose de demagogia, de forçada de barra para aumentar audiência.

Não, eu não estou dizendo que não é notícia e menos ainda que não deva ser mostrado. O Jardim Pantanal é um exemplo clássico da forma como a ocupação do solo é feita numa cidade como São Paulo e de como os menos favorecidos acabam pagando uma conta que passa a ser deles, porque não têm outro lugar para morar e, depois de se se instalarem, descobrem que o buraco é muito mais embaixo e que sua tragédia simplesmente não tem solução. O local é mais baixo do que a calha do rio.

Cada vez que o rio subir, vai inundar suas várzeas e o Jardim Pantanal está localizado nelas. Não tem como não inundar. E ele inunda rigorosamente todos os verãos em que o Tietê sobe um pouco mais.

Este ano não foi exceção, ao contrário, o Jardim Pantanal ficou debaixo d’água e seus moradores perderam parte de seus bens, comprados com sacrifício, destruídos pelas águas que tomaram o bairro. 

O Jardim Pantanal é o retrato do que não deve ser feito, ainda mais em época de emergência climática. Mas ele não é o único ponto crítico da cidade de São Paulo. Milhares de pessoas, em dezenas de outros locais, estão passando situações tão dramáticas quanto as dele. 

Agora tem duas coisas a serem feitas: primeiro, impedir que surjam novos “Jardins Pantanais” e, tão importante quanto, encontrar uma solução para as pessoas que moram lá não serem regularmente vítimas das chuvas. 

___

Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

   

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.