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São Paulo anda sozinha

Desde seu primeiro começo, São Paulo sempre fez o que quis, independentemente do que seus governantes quisessem. A pequena vila perdida nos campos de Piratininga se juntou com Santo André da Borda do Campo; recebeu os jesuítas que subiram a Serra do Mar para catequisarem os indígenas; viu o colégio ser erguido no alto da colina; sentiu a divisão entre os que ficaram em Santo André e os que se mudaram para as vizinhanças do Colégio; viu sua população praticamente sumir; e viu a soma dos que ficaram dar origem à São Paulo anarquista que progride até hoje.

A vila acanhada dormiu por duzentos anos. Suas casas ficavam vazias a maior parte do ano, para serem abertas nas festas da igreja, quando os proprietários que moravam nas fazendas e sítios ao seu redor vinham para as procissões em honra de seus santos de devoção.

Durante séculos, a vila viveu com poucos homens, entregue ao comando das mulheres, a maior parte indígenas e mestiças, que substituíam os homens entrados com as bandeiras.

Depois, veio o tropeiro e o aluno da Faculdade de Direito e o café e a explosão que fez saltar o burgo de menos de 20 mil habitantes em 1870 para a cidade que mais crescia no mundo, na década de 1950.

Ao longo dessa história, a cidade sempre se impôs a quem pretendeu governá-la. O Paulista era indomável, a cidade dos Paulistas também é indomável. E assim, ela se espalhou pelo Planalto de Piratininga, fora do controle de qualquer plano mais elaborado para ocupar as terras em volta de forma harmônica e estruturada.

Até hoje ela avança fora de controle, muito mais rápida do que as tentativas de ordená-la. O espaço vazio de ontem é uma fila de arranha-céus amanhã. O lotado amanhece abandonado e assim vai, no ritmo da vida e de suas improbabilidades.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.