São Paulo anda sozinha
Desde seu primeiro começo, São Paulo sempre fez o que quis, independentemente do que seus governantes quisessem. A pequena vila perdida nos campos de Piratininga se juntou com Santo André da Borda do Campo; recebeu os jesuítas que subiram a Serra do Mar para catequisarem os indígenas; viu o colégio ser erguido no alto da colina; sentiu a divisão entre os que ficaram em Santo André e os que se mudaram para as vizinhanças do Colégio; viu sua população praticamente sumir; e viu a soma dos que ficaram dar origem à São Paulo anarquista que progride até hoje.
A vila acanhada dormiu por duzentos anos. Suas casas ficavam vazias a maior parte do ano, para serem abertas nas festas da igreja, quando os proprietários que moravam nas fazendas e sítios ao seu redor vinham para as procissões em honra de seus santos de devoção.
Durante séculos, a vila viveu com poucos homens, entregue ao comando das mulheres, a maior parte indígenas e mestiças, que substituíam os homens entrados com as bandeiras.
Depois, veio o tropeiro e o aluno da Faculdade de Direito e o café e a explosão que fez saltar o burgo de menos de 20 mil habitantes em 1870 para a cidade que mais crescia no mundo, na década de 1950.
Ao longo dessa história, a cidade sempre se impôs a quem pretendeu governá-la. O Paulista era indomável, a cidade dos Paulistas também é indomável. E assim, ela se espalhou pelo Planalto de Piratininga, fora do controle de qualquer plano mais elaborado para ocupar as terras em volta de forma harmônica e estruturada.
Até hoje ela avança fora de controle, muito mais rápida do que as tentativas de ordená-la. O espaço vazio de ontem é uma fila de arranha-céus amanhã. O lotado amanhece abandonado e assim vai, no ritmo da vida e de suas improbabilidades.
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