Choveu
A meteorologia garantiu que não ia chover em São Paulo. Mas a chuva decidiu desmoralizar a meteorologia e despencou com a vontade de quem quer estragar a festa do outro, mesmo com o outro não tendo feito nada para incentivar a raiva.
Quando o céu começou a ficar preto, os mais espertos correram para preparar suas velas. Outros começaram a rezar para não ser sua vez de ficar sem luz no rodízio democrático e imprevisível da roleta da Enel. Outros caíram de joelhos, mas a maioria simplesmente não fez nada ou, no máximo, levantou os ombros, porque sabe que não tem o que fazer. As chuvas vão cair quando quiserem, com ou sem aviso meteorológico.
Nós achamos que somo os tais, que com a gente ninguém pode, mas não é bem assim. Pode ser que o tubarão branco não possa, que o elefante africano não possa, mas as baratas, essas podem e dão conta de nós desde o mais antigo começo dos tempos. Mais que isso, com certeza elas herdarão a Terra quando chegar nossa hora de dizer tchau para o planeta.
Ficou cinza, fez que veio, não veio, pingou, pingou mais forte, parou, ameaçou não chover, mas era tudo enganação, brincadeira de natureza para iludir o ser humano.
De verdade, a chuva só estava ganhando força. Enquanto os aviões levavam os moradores dos bairros sob os corredores aéreos à loucura, as nuvens carregadas iam se juntando, ficando uma mais perto da outra, deixando um trovão explodir para mostrar força, mas nada agressivo. Era evidente que a chuva ia chegar, mas o clima não tem pressa. Então pingava um pouco, parava, pingava de novo, aumentava um pouco, estourava mais um trovão, parava de novo, numa brincadeira sem graça para nós, mas divertida para a chuva se preparando para entrar. Até a hora que ela enjoou de brincar, fechou o céu e veio com a fúria dos deuses matando titãs.
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