Debaixo da terra
Pouca gente pensa nisso, mas debaixo da cidade existe uma gigantesca malha composta por canos, dutos, tubos, fios, manilhas, túneis e outros equipamentos que se cruzam e entrecruzam, funcionando, para garantir serviços essenciais, ou abandonados e desconhecidos, perdidos no tempo e nos mapas urbanos.
É mais de um século abrindo valas para enterrar o fornecimento dos confortos da vida moderna para milhões de moradores. Água potável, esgoto, energia, comunicações, transporte, o subsolo da cidade é cortado em todas as direções por redes que invariavelmente não se falam, nem se conhecem, operadas por empresas que só olham o próprio umbigo, oferecendo aos moradores os serviços sem os quais a vida da cidade não acompanharia o progresso, nem ofereceria aos seus habitantes as facilidades que fazem parte de sua rotina.
Acontece que essas redes têm capacidade limitada, que, em algumas áreas, já está superada, sem que aconteçam os investimentos indispensáveis para sua manutenção e expansão.
A área mais bem servida por esta malha monstruosa, por incrível que pareça, é o Centro, o velho e deteriorado centro de São Paulo, que hoje tem excesso de capacidade para um número pequeno de pessoas.
Outras regiões, incluídos os bairros da moda, não têm capacidade para atender as novas demandas. Quando as redes foram implantadas, eram regiões de pouca densidade demográfica, com moradias unifamiliares margeando as ruas estreitas.
O resultado é que a rede subterrânea que atende a cidade está sobrecarregada em várias regiões. Mas não é só sobrecarregada, ela está também sucateada, o que gera a série de acidentes de todas as naturezas que acontecem todos os dias. O duro é que só vai piorar.
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