As quaresmeiras não furam
Não tem mais goiaba para comer no pé. A hora delas passou, mas foi uma temporada farta, com muita goiaba branca nas goiabeiras da Cidade Universitária. É muito bom caminhar pela USP, comendo goiaba catada no pé. É bom porque é bom e é bom porque faz a gente lembrar do passado e como era gostoso comer goiaba nos passeios a cavalo pela Louveira de muitos anos atrás, quando a cidade era pequena e ainda não se transformara na “Grande Louveira” de hoje, centro da região composta por Vinhedo, Valinhos, Jundiaí, Campinas e Itatiba com seus subúrbios.
Mas se a temporada das goiabas passou, as quaresmeiras, infalíveis, entram em cena com uma florada deslumbrante, como se quisessem alegrar a vida espancada pelas chuvas torrenciais que castigam a Grande São Paulo desde o começo do ano.
Pode mais quem chora menos. Começou a corrida pelo título da mais bela florada da cidade. As quaresmeiras são as primeiras a mostrar a que vêm. Então, como fazem todos os anos, ante o desconhecimento do que as outras plantas farão, elas chegam chutando o balde e descarregando o peso de suas flores no dia a dia das pessoas. A primeira paulada é que mata o dragão. Elas sabem disso, por isso não deixam barato e este ano não é diferente. Chegaram com tudo, com mais que o ano passado, ajudadas pelo clima ou pela emergência climática que maltrata o planeta.
Mas as quaresmeiras não estão aí para resolver problema político ou tratar crise psicológica de gente despreparada para enfrentar a realidade das ruas da cidade. Elas sabem que a sensação de insegurança é real, que as pessoas estão com medo, mas, no máximo, emprestam sua florada para enganar a tristeza e fazer de conta que não é bem assim.
No mais, as quaresmeiras querem brilhar, ser admiradas e conseguir as notas necessárias para levar a taça da melhor florada em 25.
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