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As quaresmeiras não furam

Não tem mais goiaba para comer no pé. A hora delas passou, mas foi uma temporada farta, com muita goiaba branca nas goiabeiras da Cidade Universitária. É muito bom caminhar pela USP, comendo goiaba catada no pé. É bom porque é bom e é bom porque faz a gente lembrar do passado e como era gostoso comer goiaba nos passeios a cavalo pela Louveira de muitos anos atrás, quando a cidade era pequena e ainda não se transformara na “Grande Louveira” de hoje, centro da região composta por Vinhedo, Valinhos, Jundiaí, Campinas e Itatiba com seus subúrbios.

Mas se a temporada das goiabas passou, as quaresmeiras, infalíveis, entram em cena com uma florada deslumbrante, como se quisessem alegrar a vida espancada pelas chuvas torrenciais que castigam a Grande São Paulo desde o começo do ano.

Pode mais quem chora menos. Começou a corrida pelo título da mais bela florada da cidade. As quaresmeiras são as primeiras a mostrar a que vêm. Então, como fazem todos os anos, ante o desconhecimento do que as outras plantas farão, elas chegam chutando o balde e descarregando o peso de suas flores no dia a dia das pessoas. A primeira paulada é que mata o dragão. Elas sabem disso, por isso não deixam barato e este ano não é diferente. Chegaram com tudo, com mais que o ano passado, ajudadas pelo clima ou pela emergência climática que maltrata o planeta.

Mas as quaresmeiras não estão aí para resolver problema político ou tratar crise psicológica de gente despreparada para enfrentar a realidade das ruas da cidade. Elas sabem que a sensação de insegurança é real, que as pessoas estão com medo, mas, no máximo, emprestam sua florada para enganar a tristeza e fazer de conta que não é bem assim. 

No mais, as quaresmeiras querem brilhar, ser admiradas e conseguir as notas necessárias para levar a taça da melhor florada em 25.      

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.