O mundo gira e tudo muda
Quando eu era menino o número do telefone da casa de meus pais, no Pacaembu, era 5-5207. Uma linha e três aparelhos. Um na copa, outro no escritório e o terceiro no quarto de meus pais. Este tinha uma chave que quando era acionada impedia que se ouvisse a conversa nas outras duas extensões.
Durante anos foi esse número e os três aparelhos que fizeram nossa comunicação com o mundo. Nas férias minha mãe telefonava para a fazenda e para o Guarujá para acertar os detalhes de nossa viagem e a ligação era feita através de telefonistas interurbanas, 01 para a fazenda e 09 para o Guarujá, que levavam de três a quatro horas para completar a ligação. Elas recebiam o pedido, anotavam, desligavam e quando a ligação ficava pronta ligavam de volta.
Para quem está espantado com tanta modernidade, na fazenda a situação era mais complicada. Ao contrário dos aparelhos pretos, sólidos, com o disco com os números de um a zero no centro, que equipavam as casas da Capital, o aparelho da fazenda tinha uma manivela do lado que era girada até a telefonista de Louveira atender e a pedido fazer toda e qualquer ligação solicitada, local ou interurbana.
Com o progresso e o crescimento nacional, um belo dia o número original foi acrescido de um seis na frente. Passou a ser 65-5207. Como tinha mais gente do que linha, as linhas de telefone passaram a ter valor, mais de mil dólares, na época em que o dólar valia mesmo. Tenho conhecidos que investiam em linhas telefônicas e que tomaram uma paulada quando elas foram democratizadas, ficaram fáceis de serem instaladas e perderam o valor.
Depois acrescentaram um três e o número passou a ser 3665 -5207. Mas em poucos anos o telefone fixo foi engolido. Hoje, o mundo é celular.
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