Dignidade e miséria
A grande diferença entre a pobreza e a miséria é que na pobreza se tem dignidade e na miséria não se tem dignidade. A dignidade é um atributo e um direito humano. Não há felicidade sem dignidade e a felicidade é um bem a que todo ser humano tem o direito de aspirar. O direito a felicidade é parte da maioria das constituições democráticas, ele é inerente a todos nós.
Como sem dignidade não há felicidade, a dignidade também é um bem inerente ao ser humano, ainda que não estando diretamente formulado nas Constituições. A dignidade é premissa do direito natural, todo ser humano tem direito a dignidade porque ela é dos atributos essenciais a vida.
A dignidade é reverenciada desde a antiguidade. Não é outra a razão que leva Príamo à tenda de Aquiles para implorar pelo corpo de Heitor e pela possibilidade de lhe dar um funeral com as honras que o herói troiano merecia. E não é outro o motivo que leva Aquiles a ceder e a colocar o corpo de Heitor no carro que o levaria de volta a Troia para ser devidamente honrado na morte. A morte tem dignidade.
Sísifo empurrando eternamente sua pedra que no fim do dia rola de volta para baixo, não vê a tarefa como um castigo que o humilha, mas como uma missão que ele deve realizar cada dia melhor, mesmo sabendo que no fim do dia a pedra rolará de volta, porque esse é seu destino, e a ele cabe cumpri-lo com a dignidade possível.
A pobreza aceita e abraça a dignidade, a miséria arranca a dignidade do ser humano, o reduz a ser menos, a esconder a chama sagrada que brilha dentro de cada um de nós.
A miséria condena o ser humano a perder a dignidade. Não é por outra razão que nos campos de concentração a primeira coisa que é feita é quebrar a dignidade do prisioneiro e assim tirar dele qualquer possibilidade de revolta ou reação.
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