A vida e os filmes
A cavalaria chegou, como nos filmes de caubói, exatamente quando parecia que tudo ia desandar. Não desandou, deu para salvar o mocinho e a mocinha, morreu gente no meio, mas o herói e sua amada, estes se salvaram e acabam o filme olhando o por-do-sol iluminando a terra selvagem que vai se transformar no seu rancho.
Nada de novo debaixo do sol, exceto que hoje em dia não tem mais filmes como esse, então a maioria das pessoas não consegue imaginar como era, o que queria dizer a cavalaria chegar no último momento, quando as balas estavam acabando e a caravana cercada corria o risco de ser completamente destruída.
Quando tudo parecia perdido, ao longe se ouvia o toque da corneta avisando que a cavalaria estava logo ali, depois da curva, no alto da colina. De longe se via a poeira que o galope dos cavalos levantava do chão. Aos poucos os cavaleiros iam aparecendo, galopando atrás da flâmula de identificação da tropa e, às vezes, da bandeira americana.
A cavalaria chegava, o perigo passava, todos confraternizavam, o mocinho e o capitão se entendiam e – vida que segue – “the end” e até a próxima superprodução, filmada a cores no deserto de Utah.
A vida tem muito dos filmes de caubói. Pega pesado e acaba bem, ou não, depende da época do filme. Os das décadas de 1960/1970 podiam não acabar tão bem assim. Mas já faz muito tempo, pouca gente ainda se lembra deles, então deixa pra lá.
Hoje a pegada é mais forte, jorra mais sangue, tem mais dor e sofrimento, as cenas são mais reais, quem sabe para acompanhar a realidade da vida moderna, aqui ou em qualquer outra parte, incluídos os países nórdicos.
Em tempo de violência filme e vida se confundem.
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