Tem dias que não vai
Tem certos dias em que a gente acorda, tem dez coisas para fazer e quando começa descobre que não vai. Simplesmente não dá liga. Você pensa, mas o que você pensou não gira, na hora de escrever um texto, saí tudo ao contrário, não tem lógica, não corre, ao contrário, numa enorme confusão, fica tudo empacado, não sai do lugar, não tem sentido e acima de tudo, não é o que você queria escrever. Sai tudo errado, o sim vira não, o quem sabe vai para o fim da fila, a ideia inicial morre no meio do caminho.
Então o jeito é tentar fazer outra coisa, jardinagem, pegamos as ferramentas e vamos para o jardim ver como vão as plantas, se é preciso podar, limpar um pedaço, regar, enfim, fazer qualquer coisa que nos dê a sensação de estarmos sendo uteis. Ao pegar a tesoura para cortar um galho seco vem a certeza de que se a usarmos vamos causar um acidente, cortar o dedo, ou coisa pior. Saímos do jardim porque com certeza dessa natureza não se brinca.
A alternativa é cozinhar, fazer algo gostoso para enganar a frustração de não ter conseguido fazer nada. Mas uma voz dentro da cabeça nos diz que é melhor não fazer. Cozinhar comporta um determinado risco, podemos virar a panela com água fervendo, queimar o dedo na assadeira, dar tudo errado e a comida ser desperdiçada, ainda mais em tempos de alimentos pela hora da morte.
Escrever não gira, arrumar o jardim é loucura, cozinhar tem tudo para ser um desastre. Ok, sobrou ler um bom livro. Você se senta na poltrona preferida, acende a luz de leitura, a lâmpada queima e não tem outra para trocar. Desenganado, com cara de cachorro em dia de mudança, você decide assistir televisão. O caminho é esse, assistir televisão e não pensar em nada. Simplesmente olhar hipnotizado para a tela na sua frente e deixar o tempo passar. Quando você liga, acaba a energia elétrica.
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