As noites frias
As noites frias convidam a tomar um vinho, sentado na frente de uma lareira. Infelizmente, os chilenos, em Santiago, não podem fazer isso, então para eles o sonho tem que ser outro. A fumaça das lareiras nas noites geladas chilenas aumentaria a poluição já exageradamente alta de Santiago.
Aqui é diferente. Com poluição ou sem poluição, é possível acender uma lareira, claro desde que se tenha uma lareira, e tomar um vinho tinto, quem sabe acompanhado de uma fondue de queijo. É programa para ninguém colocar defeito, ainda mais se a pessoa amada estiver ao lado.
Infelizmente, o sonho é para poucos, se considerarmos o tamanho da população paulistana. Com certeza muito menos de um quinto da população tem lareira em casa. A maioria não tem, no máximo usa um aquecedor, e diante de um aquecedor, comer fondue e beber vinho perde muito da magia.
Mas o que é triste mesmo é que mais de 80 mil pessoas vivem em condição de rua e elas não tem nem lareira, nem aquecedor, nem casa. Se espalham pelas calçadas e praças da cidade, protegidas por barracas de lona, ou mais comum, papelão e cobertores, com que forram o chão frio das calçadas e estendem, presos como dá, para cortar a força do vento gelado que passa debaixo do Minhocão.
Existem menos de 30 mil leitos nos abrigos públicos. A cidade não tem capacidade para acolher todas as pessoas em situação de rua, então milhares delas simplesmente não têm para onde fugir e se esconder do frio absurdo, que este ano chegou a zero grau em mais de um canto da Capital.
Grupos de voluntários e de funcionários da Prefeitura fazem o que podem para minorar a situação dramática destas pessoas que não podem se quer sonhar com uma vida melhor. Debaixo de um viaduto, com o vento gelado cortando a pele, não tem sonho que resista.
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