Vai dar ruim
Não tem jeito, vai dar ruim. Ou melhor, já está dando. Até agora tivemos pequenas exibições de força, estudos do terreno feito por grupos encarregados de descobrir onde os danos podem ser maiores e mais sérios. E eles já mostram que a coisa vai ficar feia quando as grandes tempestades derem as caras.
O que pode ser feito? Neste momento, acender velas e rezar. Quem sabe chamar a Fundação Cacique Cobra Coral também possa ajudar. Mas mais que isso é ilusão, até porque não tem como desmanchar o que está feito e que ano a ano vem comprometendo a resiliência da cidade diante dos grandes eventos climáticos.
São Paulo está no caminho errado. Já devia ter aprendido, mas não aprendeu. As lições da época em que era “a cidade que mais cresce no mundo” foram esquecidas. Boa parte do que foi feito deu errado, mas não se lembram mais. Ou se lembram, mas não usam a experiência do passado para minimizar os erros do presente e os prejuízos do futuro.
A cidade está cada dia mais inóspita. Prédios gigantescos ocupam o lugar de duas casinhas geminadas, ruas estreitas recebem construções para abrigar centenas e mesmo milhares de pessoas. Só pode dar errado.
Como se não bastasse, a impermeabilização do solo atinge níveis impressionantes, criando verdadeiros canais para a água correr espremida, solta e farta, levando o que tem pela frente, nas grandes tempestades.
Vai dar ruim com a mesma certeza de que alguém um dia ganha a loteria de Natal da Pomerânia. Não tem jeito de ser de outro jeito. As evidências estão aí.
As ruas asfaltadas e a falta de jardins e praças são a certeza de que a água tem espaço para nadar de braçada. E como o passado já mostrou, ela agradece e não larga o osso. A conta, no final, será nossa.
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