Uma visão diferente
Uma coisa é escrever sobre os altos edifícios da cidade, outra é ver a cidade do alto destes prédios. É uma visão completamente diferente. Olhar de cima para baixo é o oposto de olhar debaixo para cima. E faz toda a diferença.
Debaixo para cima não dá vertigem, de cima para baixo dá. E pode dar medo, um frio na barriga, e a vontade de sair da janela ou do terraço rapidamente, porque é melhor ficar sentado dentro da sala do que olhando a cidade correr lá embaixo, no ritmo patético das ruas que se arrastam.
Não precisa muito. O alto do Martinelli já impõe e a vista do Terraço Itália assusta, antes de subir lá é difícil acreditar no tamanho da cidade.
São Paulo é um polvo gigantesco que avança em todas as direções e agarra o que vê pela frente, sem remorso do que deixou para trás, mesmo sabendo que o atrás é o passado, o começo e o meio, que lhe permitiram chegar até aqui.
Do alto dos altos edifícios a perspectiva é outra, mais densa, mais tensa, mais alucinada. A busca por espaço ganha velocidade e um horizonte que não é mais possível de se ver da rua, no alto, redescobre a imensidão do universo e o vermelho profundo do por-do-sol.
A mesma coisa é outra coisa, ou assim parece. O horizonte curto dá lugar a possibilidade de viagens cósmicas nas quais o passageiro é também o piloto, que escolhe rotas desconhecidas e segue por elas colocando em risco a espaçonave.
Mas se a visão da janela ou do terraço abre os portões da Torre de Babel, as paredes estreitas e os espaços apertados desfazem a sensação de grandiosidade. Uma cama, um mini sofá, duas cadeiras ladeando uma tábua que finge que é uma mesa, dão espaço para uma porta estreita: do outro lado é o banheiro. E o corredor da entrada é a cozinha. Eta vida besta!
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.