5 anos sem Paulo Bomfim

Ontem fez cinco anos que o poeta Paulo Bomfim saiu desta vida rumo à Fazenda Himalaia que tem no céu. Foi se sentar no terraço e ver a mata onde as onças rugem para a eternidade. Foi conhecer seus antepassados que há trezentos anos não voltaram do sertão. Foi reencontrar sua Emmy e o rumo da eternidade, dado pela mulher que o acompanhou durante a maior parte da sua vida, mãe de seu único filho e de quem ele dizia que, se não fosse ela, ele não teria sido Paulo Bomfim.

Paulo Bomfim faz falta todos os dias. Conversar com ele era uma arte fina, um momento bom, o empurrão que a gente precisa para tocar em frente e aceitar o mundo como o mundo é e a vida vem. 

Paulo Bomfim via poesia em quase tudo, até no gavião que entrou voando na sala do seu apartamento no décimo segundo andar, perseguindo uma rolinha desesperada que foi se esconder lá.

Almoçar com ele era ritual profundamente humano e bom que redimia as falhas e justificava os pecados, em conversas longas e leves, que se estendiam por algumas horas, aproveitando a hora do almoço.

Sua vida rica em histórias fantásticas e fatos rotineiros dava os parâmetros para temas os mais variados, do padeiro que foi sequestrado na padaria da esquina aos pastéis de nata portugueses que eu comprava na rotisserie italiana, vizinha de seu prédio.

Paulo Bomfim tinha o olhar doce e acolhia as pessoas com ternura. Ele dizia que só não perdoava os que haviam feito mal aos seus antepassados. Para os outros, até os piores, ele tinha sempre uma palavra boa, uma justificativa.

Faz cinco anos que meu amigo morreu. Faz cinco anos que eu converso com sua foto pendurada na Sala Paulo Bomfim, da Academia Paulista de Letras. Mas, Paulo, ainda que sendo você, não é a mesma coisa.

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