Amor tem explicação
[Crônica de 30 de março de 2001]
Por que as pessoas se apaixonam e amam? É uma resposta difícil e cada um vai dar um argumento, todos válidos, porque cada um tem uma razão para achar sobre um tema que não tem explicação. Por mais que os analistas e terapeutas digam que sabem, por mais que o estudo das reações humanas tenha evoluído ao longo do tempo, ninguém sabe por que ama e muito menos porque ama uma determinada pessoa, ou um lugar, ou uma saudade, o seja lá o que for incluída uma cidade, ainda que seja São Paulo.
Resumindo, eu amo São Paulo. Amo mesmo, com tudo de louco e inexplicável que essa ideia possa ter. Amo com a mesma falta de lógica de todo amor. Sem uma razão clara, sem um porquê definido, sem explicação e sem querê-la.
Simplesmente amo, como um homem ama uma mulher, sem muita pergunta, sabendo que em alguns momentos vai doer, mas pagando o preço porque vale a pena, ainda que custando caro, como fatalmente sempre custa.
Tem gente que me diz que seu sonho de vida é sair daqui. Meter o pé na estrada, achar um canto pedido do mundo, uma cidadezinha pequena e pacata e lá fazer seu pedaço de paraíso, acordando com os galos, vendo o céu limpo nas noites de primavera, tomando banho num riacho que desce pela encosta, formando uma cachoeira pequena e gostosa.
É uma ideia maravilhosa, mas que eu não quero para mim, ou melhor, quero, mas nos fins de semana, ou nas férias.
Nos outros dias, quero morar e trabalhar em São Paulo, enfrentando sua loucura, me queixando de sua violência, fugindo e tendo medo de suas neuroses e de seus neuróticos. Quero fica em São Paulo como gosto de ficar ao lado da mulher amada. Em paz, sentindo meu amor fluir.
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