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Ir ao cinema, ora ir ao cinema

[Crônica de 29 de janeiro de 2002]

Ir ao cinema durante as férias deveria ser um prazer. Afinal, a cidade fica mais vazia, mais fácil de andar, sem a loucura neurótica dos dias normais do resto do ano. Inclusive, eu já tinha falado sobre isto. 

Deveria, mas não é. Ou pelo menos quando você decide assistir um filme que teoricamente é o perfeito para não ter fila, ou estar cheio. Invariavelmente, é nestas horas que a gente esquece algum detalhe que atrapalha tudo, como aconteceu comigo na semana passada.

Olhando todo os filmes que estavam passando, decidi assistir o Apocalypse Now, versão nova. Na minha ingênua visão das coisas, era o filme perfeito. Velho, sobre a guerra do Vietnam, sem nenhum dos grandes astros da moda, não tinha por que não ser uma noite maravilhosa, revendo ou melhor, vendo, a versão nova de um dos filmes que mais me impressionaram.

Sai da Rádio Eldorado e fui para o shopping center onde estava passando. Shopping novo, de bairro, a primeira impressão de que estava meio vazio, me animou, como ainda era cedo, a comprar alguns CD’s antes de subir para o cinema.

CD’s comprados, lá fui eu para as alturas do último andar e para fila única, convencido de que seria chegar na bilheteria, pedir o ingresso para o Apocalypse Now e a vendedora quase me beijar, porque alguém iria assistir ao filme.

Ledo engano. A fila andava bem, eu já estava quase na metade do caminho, quando um alto falante anunciou: “Os ingressos para Apocalypse Now, sessão das oito e dez estão esgotados”.

Eu entendi, mas achei que não tinha entendido. Não era possível, e, no entanto, estava acontecendo. O único filme que não poderia estar lotado, estava. Fui à bilheteria pra confirmar. Eu tinha micado na porta do cinema, com cara de bobo, porque me esqueci que era só lá que o filme estava passando, e em sessão única.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.