O ipê florido
Muitos anos atrás, eu ganhei uma muda de ipê num evento da Rádio Eldorado com o Projeto Pomar. O Parque Bruno Covas ainda não tinha nome, as margens do Rio Pinheiros estavam começando a ficar verdes, com as árvores plantadas pela inciativa do Fernão Mesquita, então diretor do Jornal da Tarde.
Eu trouxe a muda para minha casa e plantei na frente, perto do portão. Os anos foram passando, o ipê cresceu, virou uma árvore de porte, mas florir que é bom, nada. Entrava inverno, saía inverno, as folhas caíam e nada das flores chegarem.
Os macacos da rua usam o ipê para entrar e sair do meu jardim. Meus netos balançam num pneu pendurado num galho da árvore, mas o ipê não floria. Não tinha santo que fizesse ele se animar, nem as floradas dos outros ipês plantados na calçada. Um rosa, um branco e uma amarelo. O ipê que eu ganhei no Projeto Pomar não floria. Parecia uma questão pessoal, entre ele e o jardim, ou entre ele e a vida em volta. Sei lá, um protesto contra os macaquinhos ou contra o pneu pendurado no seu galho.
Este ano a coisa toda mudou de jeito. O ipê decidiu florir. E fez isso antes do ipê rosa da rua desabrochar suas flores. Não é uma florada de impressionar o próximo, mas a meia dúzia de flores rosas não deixam dúvida, a começar pela cor da árvore, que eu não sabia qual era. Agora eu sei. É rosa.
A partir deste ano eu sei que tenho no entorno de casa quatro ipês, dois rosas, um amarelo e um branco. Eles contracenam com as azaleias, com as camélias, com as duas jabuticabeiras e com a pitangueira. Entre secos e molhados, não posso me queixar da falta de plantas para deixar meus dias mais bonitos. E com a árvore que eu plantei muitos anos atrás revelando a cor de suas flores, fica mais bonito ainda.
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