O centro vazio
[Crônica de 7 de setembro de 1999]
Fazia tempo que eu não ia ao centro velho de São Paulo de manhã, numa manhã de inverno, já menos fria do que as manhãs anteriores, quando agosto mostrava porque as grandes geadas acontecem sempre no fim desse mês.
Mesmo com a elevação das temperaturas, as ruas estavam praticamente vazias. Às dez e meia da manhã, as ruas estavam praticamente vazias. Ah, quem se lembra do centro velho de São Paulo há quinze anos!
Que diferença! Naquela época as ruas amanheciam e adormeciam apinhadas de gente. Era tanta gente, que tinha pedaços em que se era obrigado a andar de lado e pedindo desculpas, por causa dos encontrões nos outros.
Algumas ruas como a Rua Direita, deviam permanentemente serem evitadas, porque tinham sempre mais gente do que comportavam, o que fazia a alegria dos donos das Lojas Americanas e o inferno de quem tinha que andar por elas.
Foi a época em que restaurantes como o Itamarati tinham suas filiais na mesma rua em que estavam, 100 metros à frente.
Foi a época em que o Maranduba e o Guanabara imperavam absolutos, com seus sanduíches deliciosos, incomparavelmente melhores do que os hamburguers de hoje.
Era outro centro, de outra cidade.
As ruas para pedestres eram pequenas para o número de pessoas e os camelôs não só não atrapalhavam o fluxo dos que passavam, como davam uma cor única para um pedaço único da cidade.
Seus textos decorados eram poesia pura, ainda mais se comparados à brutalidade do contato quase obrigatório entre quem passa e quem vende, nos dias atuais, por falta de espaço na rua, mesmo com a rua quase vazia.
Ah, que saudade de quando o centro velho era o centro velho e a vida se multiplicava por suas ruas antigas!
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.