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O Interlagos e o meu primeiro autorama

[Crônica de 21 de junho de 2001]

Nos dias que eu vou ao centro velho, tendo um tempo, passo no Largo do Ouvidor para engraxar meus sapatos. É lá que fica o melhor engraxate da cidade e que engraxa meus sapatos desde meus tempos de Faculdade Direito, nos anos 70.

Verdadeiro mágico, ou melhor, artista, ele tem o dom de fazer um sapato velho ficar com cara de novo, depois de passar pelo seu tratamento de beleza, que envolve inclusive altas considerações físicas e metafísicas sobre o que ele vai usar, já que cada situação é uma situação e não existem dois sapatos iguais.

Só isso já justificaria uma crônica, mas, como já contei, esse meu engraxate tem outras manias absolutamente surpreendentes, que o colocam num lugar especial entre as figuras únicas que moram e trabalham em São Paulo.

Ele é alucinado por máquinas especiais. Há muito tempo, quando ainda não se falava em motos Harley Davidson como coisa normal nas ruas paulistanas, ele tinha uma, movida por um motor Honda. Depois, comprou um Gordini, movido a motor de fusca e, atualmente, para mim, ele atingiu a perfeição: está com um Willys Interlagos que tem lhe dado um trabalho infernal para ficar pronto, mas que já anda de um lado para o outro, mesmo ainda não estando terminado.

Eu fico sabendo dessas coisas porque enquanto ele engraxa meus sapatos, por conta de uma amizade surgida ao longo destes anos todos, ele me conta suas aventuras, algumas realmente incríveis.

Foi assim que na última vez que estive no centro velho, ouvindo as histórias do seu Interlagos, acabei me lembrando do meu primeiro autorama. Um dos primeiros autoramas nacionais, que tinha carrinhos que imitavam justamente os Willys Interlagos, então o melhor carro esporte do país, e batizado com esse nome para homenagear o autódromo de São Paulo, onde eles se destacavam em corridas como as mil milhas, alcançando a incrível velocidade de quase 200 quilômetros por hora.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.