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As pitangas maduras

[Crônica de 19 de setembro de 1997]

Como acontece todos os anos, no mês de setembro, as pitangas da pitangueira da porta da minha casa amadureceram e, no fim de semana passado, eu fiz a festa, me entupindo com o gosto todo particular das frutinhas vermelhas.

Por alguma mágica que, para mim, deve ser creditada ao “El Niño”, este ano as pitangas e as amoras da amoreira que fica ao lado, não amadureceram ao mesmo tempo.

As pitangas vieram na frente, como se estivessem apostando corrida, e a árvore ganhasse do arbusto, quem sabe por ter raízes mais fundas, que a preservaram dos efeitos desconhecidos que atrasaram o amadurecimento das amoras.

O que levou as pitangas a ficarem maduras primeiro é verdadeiramente um mistério, mas um mistério bem-vindo, porque com base nele eu poderei comer pitangas mais um fim de semana e terei pelo menos mais um para comer amoras. 

Não há nada como, depois de andar de bicicleta por São Paulo, parar na banca de coco da praça Vicente Rodrigues, tomar um coco gelado e, quase chegando em casa, antes de entrar no jardim, parar debaixo da pitangueira e comer seus frutos um pouco ácidos, escolhendo nos galhos os mais vermelhos, que são os mais maduros.

É programa para ninguém botar defeito e que tem um efeito terapêutico da maior importância, porque a seleção das frutas, escolhendo esta ao invés daquela, baseada na cor, mas também em critérios subjetivos, ajuda a limpar a mente, jogando os problemas para fora e oxigenando as ideias, que ficam leves e boas, como se a vida fosse sempre azul como o céu na primavera.

E é programa que vai se estender por mais tempo do que o normal, porque, graças provavelmente ao ‘El Niño’, as amoras decidiram amadurecer depois, dando-me mais um fim de semana para comê-las no pé, como se a vida fosse fácil e comer frutas nas árvores a única missão.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.