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A praça na primavera

[Crônica de 2 de novembro de 2000]

A praça Monteiro Lobato está linda. Quer dizer em volta da praça Monteiro Lobato está lindo. A praça em si está como sempre foi: mais ou menos bem tratada, com mato no gramado, mas tudo bem, ela cerca a casa do Bandeirante e não é de se esperar que na sua época áurea a casa tivesse um jardim muito diferente do que tem hoje, com mato e tudo.

O que faz a praça, neste mês, ficar mais bonita ainda são as flores amarelas caídas no chão, criando um tapete de ouro para o asfalto de rua de bairro, bem preto e menos maltratado do que o das grandes avenidas da cidade.

Como o serviço de varrição de ruas do pedaço deixa a desejar, as flores caídas se amontoam numa camada grossa que faz a rua ficar linda como se fosse uma lavra a céu aberto, homenageando os bandeirantes destemidos que saindo de casas iguais as da praça, se enfronharam pelo sertão bruto, arrancando das fronteiras do sonho toneladas de ouro.

Riqueza do mais rico de todos os Eldorados, a camada amarela cobrindo as ruas em volta da praça Monteiro Lobato nos fala da esperança de se alcançar o pote atrás do arco-íris, das fortunas escondidas sempre depois do horizonte, da felicidade que passa perto e que a gente deixa escapar.

São milhares de flores caídas aleatoriamente, formando uma passarela que atravessa a porta de todas as possibilidades na poesia que emana de seus desenhos, da beleza que esconde a miséria da cidade e apaga as marcas da violência sem sentido que cresce dia a dia como um câncer sem cura.

A praça Monteiro Lobato, nos dias de primavera, faz possível, na imaginação de quem passa por ela, todas as aventuras dos personagens do escritor genial. Ao nosso lado vão Emília, Pedrinho, Narizinho, o Visconde e o Quindim, todos de mão dadas com o bandeirante antigo que tirava ouro da bruma dos rios.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.